domingo, 2 de agosto de 2009

direto de 1981

Arquitetos pegam na massa e dão exemplo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de dezembro de 1981

Domingo, a partir das 10h30min, uma festa da cumeeira de características originais aconteceu no bairro Tarumã, num conjunto habitacional que a Sakamori ali está construindo. Alunos e professores do curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná se confraternizaram, num ambiente descontraído, com mestres-de-obras e operários pela finalização de uma casa popular que foi totalmente erguida por 26 estudantes, num trabalho prático do "arquiteto construindo".

Dentro de uma nova proposta de integração dos futuros arquitetos na realidade do mercado, uma das filosofias que o professor Leo Grossman levou para a chefia do Departamento de Arquitetura do Setor de Ciências Tecnológicas da UFP, o professor José Sanchotene, 39 anos, da turma de 1962 da UFPR, titular da cadeira de Composição 6 propôs aos 26 alunos do 3º ano, a tarefa de construção de uma casa popular. Durante 60 dias, jovens entusiastas - entre os quais muitas moças, habitualmente de unhas esmaltadas e mãos bem tratadas, aprenderam a preparar cal e cimento, a colocar tijolos e a erguer paredes - num trabalho prático e que "se destina, antes de tudo, a mostrar que o arquiteto está mudando a imagem de apenas conceber projetos nas pranchetas, distante da realidade", como explica Sanchotene - capaz de se inflamar ao falar desta nova forma de atuação-integração-ação dos estudantes.

Ao que se saiba, esta foi uma das primeiras vezes no Brasil - e com certeza, a primeira nos 20 anos de existência do curso de arquitetura da UFP, que os estudantes levaram um trabalho prático até as ultimas [conseqüências]. Se os futuros profissionais de quase todas as áreas tem estágio e aprendizado prático, desenvolvido em indústrias, empresas, escritórios-modelos etc; os arquitetos se propuseram, agora, a não permanecer apenas comodamente nas pranchetas de escritórios acarpetados e com ar condicionado, mas, isto sim, chegarem [à] obra física, conviver com operários e mestres-de-obras, aprendendo, na prática, a melhor forma de solucionar um problema real. "Acredito que frente a uma nova realidade de mercado, em que a mão-de-obra escasseia e encarece, o arquiteto, mesmo não invadindo a área do engenheiro, tem que conhecer de fato aquilo que pretende ver edificado", diz Sanchotene, consciente também de que esta experiência desenvolvida no conjunto popular que vem sendo executado pela Sakamori Empreendimentos, não se repetirá da forma gratuita como foi feita. Afinal, no momento em que 26 estudantes se dispuseram, durante 2 meses, a trabalhar graciosamente passaram a representar uma (desleal) concorrência com os operários e se o Sindicato dos Empregados na Indústria da Construção Civil do Estado do Paraná tivessem a organização e a fiscalização existente em outros centros, teriam surgidos protestos. Entretanto, foi apenas uma experiência - que se encerrou na conclusão da unidade-piloto e se houver uma nova proposta, em 1982, o mínimo que se fará é que a empresa beneficiada com esta mão-de-obra voluntária, faça o pagamento correspondente aos empregados que nela seriam utilizados e a importância reverterá em favor do sindicato da classe.

3 comentários:

Nadia disse...

alguém por favor me explica o que é a festa da cumeeira??

Anônimo disse...

como eles não tinha laje pra fazer festa na laje, eles faziam nas cumeeiras...

ok
calei a boca

Lyn disse...

Existe um costume pelo país afora que, durante a construção de uma casa, quando se chega na cumeeira se faz uma festa para comemorar. Dono, operários e outros envolvidos fazem um churrasco ou coisa parecida para comemorar que a casa já se tornou um abrigo.