quarta-feira, 27 de maio de 2009

Carro ou metrô, o grande equívoco


Dae pessoas!

Saímos um pouco de projeto propriamente dito e vamos falar um pouco de planejamento urbano...

Bom, pra quem não sabe, meu tfg tem um pouco a ver com mobilidade urbana e tals e, procurando sobre o assunto, achei esse texto interessante do nosso digníssimo ex-professor (??).

O assunto é polêmico e acho que vale a discussão. So, Lets go!


Publicado em 16/05/2009 | JAIME LERNER


Um dos grandes equívocos na discussão dos problemas das cidades no mundo inteiro é a polarização entre a opção pelo carro ou pelo metrô no enfrentamento dos desafios da mobilidade urbana.

Com o crescimento do número de carros nas ruas, alimenta-se o imaginário popular com a ideia de que a solução seria a ampliação da infraestrutura viária, como viadutos e vias expressas, e o consequente aumento de grandes estacionamentos – subterrâneos ou não – e a adoção de toda a parafernália que acompanha a opção pelo automóvel com as metodologias de engenharia de trânsito.

Para contrabalançar isso, vende-se a ideia de que só o metrô poderia resolver essa confusão fenomenal. E aí aparecem os ‘vendedores’ de sistemas enterrados a abastecer a mente dos prefeitos com essa solução.

Nada como um metrô para se prometer ao cidadão, já que esse veículo rápido a correr pelo subsolo, sem depender do trânsito caótico, levando as pessoas confortável e rapidamente ao seu destino, parece o ideal.

Se o metrô em si é rápido, o tempo de deslocamento total necessariamente não o é. E por quê? As estações são mais espaçadas, portanto há que se caminhar mais para alcançá-las. Depois, descer (e subir) por escadarias imensas, nem sempre automatizadas, e percorrer longos corredores até se chegar à plataforma desejada, onde se aguarda cada comboio em média de dois a cinco minutos. Caso haja a necessidade de se fazer uma correspondência com outra linha, repete-se o processo anterior, consumindo outros 15 ou 20 minutos preciosos.

Resultado: o tempo de viagem aumenta, e a corrida de obstáculos que esses percursos representam, principalmente para adultos, acompanhados de crianças e idosos (sem considerar as pessoas com limitações de mobilidade), consome muita energia. Cinquenta minutos depois, cansado e suado, você chega ao seu destino. E aí você ainda tem de subir outra escadaria e caminhar bastante, se não souber o ponto exato de emergir.

Mas, afinal, é bom o metrô? É ótimo! Contudo, não se pode esquecer que construir uma nova rede completa de metrô já não é mais possível para as cidades de hoje. Londres, Paris, Moscou e Nova Iorque têm redes extensas, mas que tiveram sua construção iniciada há cem, 120 anos, quando os custos de se trabalhar no subsolo eram mais baratos.

Hoje, uma metrópole como São Paulo, por exemplo, tem quatro linhas, mas 84% dos deslocamentos são em superfície.

Embora eu acredite que o futuro está na superfície, não procuro provar qual sistema é o melhor. Cada cidade precisa extrair o melhor de cada modo de transporte que tenha, seja na superfície, seja subterrâneo. A chave reside em não se ter sistemas competindo no mesmo espaço e utilizar tudo aquilo que a cidade tem da forma mais efetiva.

Na minha opinião, os sistemas em superfície têm a vantagem de, com as características corretas (tais como canaletas exclusivas, embarque em nível e pré-pago e frequência elevada que chamamos de BRT, Bus Rapid Transport), alcançar um desempenho similar ou maior do que o do metrô subterrâneo, e por um custo acessível a todas as cidades e com uma implantação muito mais rápida. Ainda, há que se considerar a utilização de veículos individuais associados aos demais elementos da rede pública de transporte, como é o caso das bicicletas (o Velib) em Paris.

O que o grupo de “vendedores” do metrô não lhe conta é a quantidade imensa de recursos necessários para implantar uma única linha subterrânea que, contando todos os estudos, pode levar 20, 30 anos para ser construída. A operação terá de ser subsidiada, e aí recursos que se destinariam à educação, saúde, atenção à criança, irão para o brejo.

Ah, sim! Aí vem a pressão! Sem metrô o Brasil não irá sediar a Copa do Mundo. Como se o técnico dessa solução de mobilidade fosse o Dunga.

Curitiba transporta 2,3 milhões de passageiros/dia em seu sistema em superfície, mais ou menos o mesmo que o metrô de São Paulo, e mais do que o metrô e o trem de subúrbio do Rio de Janeiro, juntos.

Um recente estudo avaliou que, para ampliar a sua capacidade de transporte em 3 milhões de passageiros/dia, o Rio precisaria investir R$ 3 bilhões (30% recursos do governo em obras, 70% da iniciativa privada em frota). Logo, com R$ 1 bilhão – o equivalente ao custo de quatro quilômetros de metrô –, a cidade poderia transportar 3 milhões de usuários a mais, em excelentes condições de conforto e segurança no sistema BRT.

Mas por que então alguns excelentes prefeitos embarcam nesse ‘metrô furado’, ou no furo para o metrô? Porque precisam anunciar ideias para pessoas que têm seu imaginário alimentado por idealizações. Seria o equivalente a lhe prometer a Angelina Jolie e lhe entregar o Clint Eastwood. E quem estimula isso: tecnocratas que contribuem para a deterioração dos sistemas de superfície pela má operação, visando apressar a “necessidade” de um metrô.

Por outro lado, cerca de 83 cidades do mundo como Seul, Bogotá, Cidade do México, Los Angeles, algumas delas maiores que São Paulo, estão implantando o que eles chamam o BRT de Curitiba.

Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná. É consultor de urbanismo da ONU e presidiu a União Internacional de Arquitetos (UIA), sediada em Paris.


Quem tiver interesse e um pouco mais de paciência, tem esse link tbm:

Metrô é a solução!?

(ops! tomei a liberdade de postar como Gau...)
Ass.: Nelson

9 comentários:

Anônimo disse...

fato é que a RIT-CTBA funciona muito bem, é um sistema viário revolucionador. Um metrô não transformaria muito a situação, hoje. Mas e daqui pra frente? Quando Curitiba crescer e chegar a 2 milhões de pessoas usando o sistema viário ao mesmo tempo? Hoje se tem 2,3 milhões por dia, mas não ao mesmo tempo. Nessas condições o metrô seria muito bem vindo. Se pensamos só no presente, o futuro será caracterizado por um imenso caos urbano com obras de ampliação e melhoria.

Mas quando inventarem o teletransporte público, tudo isso acaba e todos vivem felizes (NOT).

Unknown disse...

eu sei la, mas pra mim se sao paulo nao funciona gastando uma grana com metro ainda prefiro gastar menos e elevar nosso transporte de superficie ao limite.

Thiago Maso disse...

o maior problema está no pensamento sistemico... entender o problema do metroXonibus como pontual.. ou do transporte urbano apenas como transporte urbano eh o grande problema... porque que todo mundo tem que ir trabalhar/estudar/pagar conta as 8 da manha e ir pra casa as 6 da tarde? isso gera inumeros problemas de transito, energia, morte do centro... porque nao se pensa na densidade da cidade ao inves de alargar tamanho de rua - ou pior, ja vi em estudos para "pedestralizar" tal rua, que o certo eh botar paralelepipedo e fazer curvas, dificultar o carro...
enfim, acho q resolver esse problema requer um pensamento muito maior do que so em transito - e esse eh o grande problema dos envolvidos com isso... so assim se criaria um desenvolvimento sustentado... e concordo com o governador, nao vale a pena criar um problemao pra resolver outro... sou completamente contra o metro e a favor da multiplicidade de funcoes e possibilidades nas ruas de nossas cidades.

Unknown disse...

concordo em partes com o thiago... eh errado pensar nesse problema pontualmente, uma vez que ele eh gerado por varios outros fatores... o que temos que pensar nesse caso, eh como levamos as nossas vidas... pense: estah começando a gerar problemas o fato de cada aluno que entra na faculdade ganhar um carro. poxa, vai akela cambada de gente sozinha em um carro que cabem 4 pessoas(confortavelmente) - ou seja, 25% de aproveitamento do transporte particular. acho que fikar mudando rua, colokando metro, e o caralho a 4 soh pra univesitario bebado dirigir na batel mais rapido de noite e ir pra faculdade no rebordosa de manha naum tah com nd... ou seja, investir milhoes por cuasa de uma falta de conduta da população. mais uma vez gente, governo naum eh pai de ninguem, se eles querem construir o metro, naum ha causas nobres como uma imagem de utopia, mas sim um puta lobby das empressas de metro...

o que eu quero dizer eh que temos que passar por um periodo de se "queimar com o fogo" para aprender que queima.. soh assim o ser humano aprende... metro(superficie ou subterraneo), RIT-CWB, me parecem mais um presente para uma cidade mimada do que uma solução para um caos inevitavel....

a puc jah começou a propor um sistemas de caronas, para suprir pelo menos uns 50% dessa ineficiencia do transporte particular... e nos arquitetos aki pensando em infraestrutura urbana... como somos inuteis...

gustavo utrabo disse...

fato é que a RIT-CTBA não funciona nem um pouco bem. Que os ippuqueanos não me entendam mal, mas é uma simples verdade... se o transito está complicado é pq o sujeito não larga seu carro para pegar um ônibus ou metro. O que é muito lógico...primeiro pq todas estações são extremamente chatas... vc sai de um lugar da cidade e chega em outro igual... (new york , paris... não são assim) sem falar das estruturais... lugar mais impróprio de se caminhar além da paisagem urbana mais monotona da cidade ( o Oba possui um texto muito interessante sobre isso)
segundo a qualidade do transporte - qualidade como algo de luxo até - onibus ou metro limpo que seja... Terceiro que maravilha que é essa integração né... o cara pode atravessar a cidade com uma passagem só...mas o cara que atravessa a cidade com uma passagem só e fica 2 horas dentro do ônibus não tem condições de ter um carro... e o sujeito que quer fazer um deslocamento pequeno na cidade tem que ir até um terminal para só pagar uma passagem... um trajeto que de carro ele demora 15 de ônibus ele leva 40... ninguém vai largar o carro assim... pq não se pode validar o cartão (cartão que muitos já tem... o sistema já está implantado) quando entra no ônibus e esse cartão valer por uma hora ou mais... assim ele pode descer aonde quiser e pegar o ônibus aonde quiser... aí o transporte fica mais inteligente...
O transporte publico de curitiba já funcionou para 600 mil pessoas agora não funciona mais... o marketing feito nele já venceu... vamos pensar a cidade sem o pudor que é imposto na gente... olha oq fazem fora daqui...

Thiago Maso disse...

yoshi - só um dado, que ja cansaram de ouvir eu falar: eficiencia do motor a gasolina; 13% eficiencia do transporte como servico: 100kg (vc e sua mala) num carro de 1000kg = 10%. Matematica simples; 13%x10% = 1,3% de eficiencia - realmente um meio de transporte inteligente.

e o q o gustavo falou me lembra uma discussão que tivemos.. o carro SEMPRE vai ser melhor do q onibus, nao importa se vc eh rico/pobre/consciente ou nao... todo mundo concorda que andar num banco de couro com ar condicionado e ouvindo seu radio eh melhor do q sendo encoxado num inter2... então a minha proposta é ver os pontos fortes do carro - e até onde as pessoas estao dispostas a pagar por isso - e avacalhar com o carro, ao mesmo tempo que melhoramos os onibus. Com onibus/metro ideais, ainda andariamos de carro.. agora, se por exemplo, custasse 40 dolares estacionar um carro (NY) ou pedagio de ate 10 euros pra entrar no centro (Londres), se existisse um imposto cobrado na bomba de gasolina pra subsidiar o transporte publico e a reducao da emissao de carbono, etc etc etc, cada vez mais inviabilizaria o carro como transporte, reduzindo assim a sua "necessidade" como acreditamos...

mas claro... essa é a minha proposta, e deve ser levada em conta junto com centenas de outros fatores que influenciam a vida e os deslocamentos na cidade.

Unknown disse...

thiago- sim, EU jah naum aguento mais ouvir vc falar disso! huahuahuahauhauhau mas oq vc tah falando eh de uma analize que abranje a eficiencia energetica do carro... eu soh tentei fazer uma matematica MAIS facil... heheheh que nem vc falou, as pessoas naum vaum largar o carro... soh apontei do fato de o usarmos mal, e naum entendermos o mal que faz....

e eh por isso que eu concordo com a sua proposta (em partes, hauahuah), no sentido de que devemos repensar como usar o carro/transporte publico... por isso que eu digo: eh um problema mais etico do que urbanistico...

Thiago Maso disse...

isso ae... ta na hora de um post novo pra gente brigar mais... hahaha...

Unknown disse...

hauahuhauhauhauhauahuha